OFICINA DA RIN #6 — Especial? Só se for para ganhar no Street Fighter

rin
4 min readFeb 16, 2024

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É igual aquele ditado: A dor é inevitável, o sofrimento é a casa do caralho.

Depois de terminar todas aquelas etapas, agora nós vamos entrar em assuntos um pouco mais específicos acerca da escrita. E não demorou muito para eu decidir que precisava falar sobre algo chamado: ORIGINALIDADE.

Esse é um tópico extremamente pertinente e creio preocupar muito as pessoas que estão, principalmente, no início de suas aventuras pelo mundo da escrita.

Bem, para muitos a originalidade acaba sendo um pesadelo e até mesmo causa desistências por justamente não acharem valer a pena publicar algo por puro medo de não ser original… Mas, primeiro, o que seria ser original?

De acordo com o dicionário, originalidade é inovação, algo nunca feito antes. Um feito tão grandioso capaz de levar qualquer ser humano ao trono do mundo criativo e conquistar as maiores riquezas da história da humanidade… E, não, não é assim.

Primeiramente vamos colocar a verdade na mesa: É impossível ser 100% original.

E quando falo isso não é querendo falar necessariamente sobre a história. Assim como visto nas oficinas, existem vários aspectos que compõem uma narrativa, então em algum ponto você não vai ser original. Na verdade, mais de 80% não vai ser.

E está tudo bem.

Não confundir também a originalidade com “não estou plagiando”. Você pode não ser original sem precisar copiar, isso é entendimento básico.

Mas sério, tudo já foi preestabelecido. Não há gênero ou cenário que não tenha sido explorado em todos esses anos da humanidade. A bíblia começou vários dos plots que vemos hoje em dia, não é difícil de ver histórias contemporâneas que ainda puxam de textos clássicos.

E mesmo que ache estar sendo original… Pode procurar, alguém já fez.

Até quando decide inovar tentando algo nunca feito antes, muito provavelmente sua estrutura vai seguir algum parâmetro. Por exemplo, a estrutura super clássica da JORNADA DO HERÓI. Essa é uma estrutura cíclica usada em quase toda obra. É muito difícil uma que não utilize disso. Nem que não use tudo, mas vários aspectos são aproveitados.

Então segura aí mais uma verdade: Você não é o epítome de ruim ao não ser 100% original, mas você também não é especial por supostamente conseguir ser. Originalidade não é fórmula para o sucesso.

Além disso, a originalidade é algo que pode ser tratado como faca de dois gumes. Mesmo não revolucionando na história, há de se prestar bem atenção aos aspectos originais que escolheu para colocar, pois muitas vezes essa originalidade só vai deixar a narrativa robusta, mas para o lado ruim. O risco de tudo ficar extremamente confuso e perder a seriedade é muito alto nessa busca pela suprema originalidade, então cuidado.

Uma história que eu vou citar em outra oficina, mas já vale ser citada agora é Jujutsu Kaisen, por exemplo (não darei spoilers). Eu adoro, me divirto horrores, mas confesso que inventam tantos poderes com mecânicas complexas (ou somente aparentemente complexas) que só deixam a narrativa confusa e chega a dar preguiça. Se Gege Akutami quer algum prêmio por ser genial em certos aspectos… Por mim, vai ficar querendo, pois vejo amizades (e eu também) só lendo para ver quem ganha e acompanhar os personagens que gostamos, pois no final, essa parte complexa e supostamente 100% original só cansa… Ninguém entende nada.

“Nossa, mas também que chato por já terem inventado praticamente tudo, não sobra nada para nós desse século!”

Acho que ao invés de reclamar, devíamos prestar atenção no que necessariamente é escrever e contar histórias, aproveitando dos nossos recursos. Pode ter certeza que ser humano nenhum está satisfeito em tempo nenhum. E até mesmo os que criaram coisas originais responsáveis por definir muitos gêneros etc, eles também se basearam em outras obras, incluindo textos religiosos.

No final, meio que não existe nada original narrativamente falando há muito tempo. Em algum aspecto, vai ser inspirado ou baseado, não tem como fugir.

Agora, nós desse século podemos tentar olhar por outros ângulos. Por exemplo, eu posso usar do que já foi preestabelecido, isso não significa cópia, então consigo justamente observar tudo já feito e tentar fazer de uma maneira melhor e com a minha ótica.

Nós temos um material de pesquisa muito amplo, temos como saber qual coisa fica melhor ou não com mais facilidade. O próprio Brandon Sanderson (autor que gosto muito) já falou sobre como nós vivemos em era de recombinação. E uma das dicas dele é: Pegue algo que ama, então disseque de forma que você consiga definir os aspectos mais apaixonantes para si, então podendo aplicar sua ótica e contar sua história.

E é sobre isso: É impossível ser 100% original em plot ou estrutura, mas a forma de contar é algo somente seu. Todos nós temos experiências, muitas delas compartilhadas, mas a forma de se expressar é diferente.

No final a escrita é sobre conexão. Não é necessariamente falar exatamente sobre algo novo, nunca visto, presenciado ou sentido antes, mas sobre estabelecer uma conexão com quem está lendo. As obras que mexem com você são as mais importantes, não importa se é uma distopia maluca ou simplesmente um clichê de livraria. Histórias são sobre conexão.

Por isso só se importe em escrever o que gosta, o que ama, e se expresse como você é.

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